Policial militar faz crítica à sociedade
Para policial leis só favorecem aos ricos
texto e foto: Aline Massuca
Morador da Baixada Fluminense e policial militar há cerca de oito anos, Wallace Rocha diz que a descriminação foi fator determinante para a sua entrada para a PM. Por levar tantas “duras” da polícia em ônibus e até nas ruas, um dia ele se cansou e decidiu ficar do outro lado, porém com a vida difícil que levava, tendo sido pai há poucos meses e trabalhando para sustentar sua família, ele demorou três anos para conseguir ser aprovado no exame para polícia. A surpresa e felicidade com a aprovação do exame foi ao mesmo tempo um tormento para sua família. Não é de se espantar, só no ano passado morreram cerca de 130 policiais no Rio de Janeiro, segundo o Tenente Melquisedec Correia do Nascimento. As estatísticas são assustadoras, porém com a taxa de desemprego no Brasil chegando aos 13%, quando um concurso desses é aberto, o medo da morte passa a ser secundário e as filas para inscrição são gigantescas.
Para Wallace um dos caminhos para um policial honesto é o investimento do governo, principalmente no treinamento. Segundo ele, se o investimento na PM fosse o mesmo feito na Polícia Civil ou no BOPE, a situação estaria melhor. “Se nós passássemos dois dos seis meses de treinamento com o BOPE já resolveria”. Para ele, o Governo quer uma polícia de “vitrine”. O treinamento do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) é diário e o resultado é sentido no êxito obtido pelo Batalhão nas incursões em favelas. “Nós(PMs) se tivermos que subir o morro nós vamos mas não temos nenhum preparo nem treinamento” reclama.
A corrupção é outro problema que atinge a polícia, especialmente a militar. O baixo salário e a falta de investimento afetam a motivação dos policiais que muitas vezes se filiam ao tráfico pela facilidade de ganhos extras. “Você acha que ganhando um salário de PM é fácil se manter honesto?”, defende.
O policial revelou que a corrupção vem do alto escalão da polícia militar. O dinheiro do tráfico seduz tanto policiais quanto jovens das comunidades que não tiveram acesso à educação ou oportunidades de emprego. “O cara trabalha para o tráfico e ganha 100,00 reais por dia, a mãe dele trabalha como doméstica e ganha 300,00 reais por mês, ele vai trabalhar para o tráfico que é mais fácil e o salário é maior”, defende.
Segundo ele, a vida de traficante é uma ilusão. Em geral eles não passam dos trinta anos e quando passam acabam sendo mortos como José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha e Luís Carlos Gregório, o Gordo, fundadores da facção criminosa Comando Vermelho. “O traficante ao desfilar pelo morro com um fuzil pendurado é seduzido pelo poder e pelas garotas da comunidade”. O bandido, segundo ele, só recebe atenção do meio social quando representa perigo. “Um jovem que nunca foi visto pela sociedade, não teve chance na vida de ser alguém, se sente o dono do mundo com uma arma na mão”, explica.
Quanto ao desarmamento da população o policial se diz contra - “O governo tem que desarmar bandido”, afirma. Ele diz ainda que enquanto as facções estiverem em guerra entre si, está bom, o problema será maior quando elas se unirem. Para ele a violência no Rio tem jeito, basta os governantes quererem. A solução seria o exército nas ruas, trabalhando em conjunto com a polícia, mas, segundo ele, a população é contrária a essa idéia. “A sociedade tem pavor de favelado, na visão dela a polícia tem que agir no morro, prendendo negro e pobre”, revela. Ele relata que no Brasil a lei só funciona para o rico. “O pobre rouba uma pasta de dente e vai preso”. Ele conta que na Zona Sul as pessoas fumam maconha no meio da rua, nas praias, nos barzinhos e a polícia não pode fazer nada. “Não adianta agir. Vamos acabar prendendo filho de gente influente e nós prejudicando” afirma.
* uma condição para essa entrevista ter sido concedida foi manter o nome do policial no anonimato, por esse motivo o nome usado não é real.