sexta-feira, novembro 25, 2005

FlaFlu


Tudo ou nada
texto e foto por Aline Massuca

Enquanto na Baixada Fluminense a polícia só aparece quando você está morto,na última sexta-feira duas motos e dez carros da polícia militar se deslocaram para o número 10 da rua Sadock de Sá em Ipanema, por volta das três horas da tarde. Uma mulher que não quis se identificar chamou a polícia ao desconfiar que ladrões teriam invadido o edifício. Cerca de vinte policiais chegaram em menos de dois minutos, armados de fuzis, chamando a atenção de curiosos e moradores. Dez minutos depois ficou constatado o engano: os “ladrões” eram pedreiros que faziam reparos no edifício.

sábado, novembro 19, 2005

Policial militar faz crítica à sociedade


Para policial leis só favorecem aos ricos
texto e foto: Aline Massuca

Morador da Baixada Fluminense e policial militar há cerca de oito anos, Wallace Rocha diz que a descriminação foi fator determinante para a sua entrada para a PM. Por levar tantas “duras” da polícia em ônibus e até nas ruas, um dia ele se cansou e decidiu ficar do outro lado, porém com a vida difícil que levava, tendo sido pai há poucos meses e trabalhando para sustentar sua família, ele demorou três anos para conseguir ser aprovado no exame para polícia. A surpresa e felicidade com a aprovação do exame foi ao mesmo tempo um tormento para sua família. Não é de se espantar, só no ano passado morreram cerca de 130 policiais no Rio de Janeiro, segundo o Tenente Melquisedec Correia do Nascimento. As estatísticas são assustadoras, porém com a taxa de desemprego no Brasil chegando aos 13%, quando um concurso desses é aberto, o medo da morte passa a ser secundário e as filas para inscrição são gigantescas.
Para Wallace um dos caminhos para um policial honesto é o investimento do governo, principalmente no treinamento. Segundo ele, se o investimento na PM fosse o mesmo feito na Polícia Civil ou no BOPE, a situação estaria melhor. “Se nós passássemos dois dos seis meses de treinamento com o BOPE já resolveria”. Para ele, o Governo quer uma polícia de “vitrine”. O treinamento do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) é diário e o resultado é sentido no êxito obtido pelo Batalhão nas incursões em favelas. “Nós(PMs) se tivermos que subir o morro nós vamos mas não temos nenhum preparo nem treinamento” reclama.

A corrupção é outro problema que atinge a polícia, especialmente a militar. O baixo salário e a falta de investimento afetam a motivação dos policiais que muitas vezes se filiam ao tráfico pela facilidade de ganhos extras. “Você acha que ganhando um salário de PM é fácil se manter honesto?”, defende.

O policial revelou que a corrupção vem do alto escalão da polícia militar. O dinheiro do tráfico seduz tanto policiais quanto jovens das comunidades que não tiveram acesso à educação ou oportunidades de emprego. “O cara trabalha para o tráfico e ganha 100,00 reais por dia, a mãe dele trabalha como doméstica e ganha 300,00 reais por mês, ele vai trabalhar para o tráfico que é mais fácil e o salário é maior”, defende.
Segundo ele, a vida de traficante é uma ilusão. Em geral eles não passam dos trinta anos e quando passam acabam sendo mortos como José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha e Luís Carlos Gregório, o Gordo, fundadores da facção criminosa Comando Vermelho. “O traficante ao desfilar pelo morro com um fuzil pendurado é seduzido pelo poder e pelas garotas da comunidade”. O bandido, segundo ele, só recebe atenção do meio social quando representa perigo. “Um jovem que nunca foi visto pela sociedade, não teve chance na vida de ser alguém, se sente o dono do mundo com uma arma na mão”, explica.
Quanto ao desarmamento da população o policial se diz contra - “O governo tem que desarmar bandido”, afirma. Ele diz ainda que enquanto as facções estiverem em guerra entre si, está bom, o problema será maior quando elas se unirem. Para ele a violência no Rio tem jeito, basta os governantes quererem. A solução seria o exército nas ruas, trabalhando em conjunto com a polícia, mas, segundo ele, a população é contrária a essa idéia. “A sociedade tem pavor de favelado, na visão dela a polícia tem que agir no morro, prendendo negro e pobre”, revela. Ele relata que no Brasil a lei só funciona para o rico. “O pobre rouba uma pasta de dente e vai preso”. Ele conta que na Zona Sul as pessoas fumam maconha no meio da rua, nas praias, nos barzinhos e a polícia não pode fazer nada. “Não adianta agir. Vamos acabar prendendo filho de gente influente e nós prejudicando” afirma.
* uma condição para essa entrevista ter sido concedida foi manter o nome do policial no anonimato, por esse motivo o nome usado não é real.

terça-feira, novembro 15, 2005

Código para viver bem na maior favela da América Latina


A segurança dentro da favela
Foto e texto por Aline Massuca

Tatiana, 21 anos, estudante de Turismo, se diz feliz em viver na Rocinha e não tem vontade de mudar para outro bairro. A segurança no morro faz a jovem ter prazer em viver lá. “A Rocinha pra mim é o lugar mais seguro do Rio. Aqui eu posso chegar e sair a qualquer hora, não tem perigo. Na favela não tem assalto nem estupro”. Ela enxerga que a favela tem suas próprias leis e regras, se o morador conseguir seguí-las vive bem na comunidade

Para a jovem, o perigo está nos bairros da Zona Sul que colecionam assaltos e arrastões nas praias que são os cartões postais da cidade maravilhosa. Moradora da Rocinha desde que nasceu ela revela que nunca perdeu nenhum parente ou pessoa próxima por causa da violência ou do tráfico. Quando tem algum conflito e o “clima esquenta” na favela, os moradores ligam para parentes que estão fora e avisam para chegar mais tarde.

Cada vez que uma facção criminosa assume o controle do tráfico de drogas na favela os moradores têm que se adaptar a novas regras. “Em 2003 o Vidigal tentou invadir a Rocinha e fazia 10 minutos que eu tinha chegado em casa, o tiroteio começou. Já me acostumei”, argumenta.
"A polícia nos trata

como se fôssemos

bandidos"


Para os moradores o maior problema é lidar com os policiais e não com os traficantes.
“Outro dia estava dentro da Van na Estrada da Gávea em direção a Rocinha e o policial abordou o motorista pedindo dinheiro para tomar cerveja”, conta. Para ela, a polícia civil é mais educada e respeita mais o cidadão. “A PM nós trata como se fossemos bandidos”, revela. Segundo Tatiana, a dica para o morador ser respeitado pelo policial é sempre sair de casa com a “Bíblia”, que seriam seus documentos - carteira de identidade, CPF e carteira de trabalho.

“Alguns traficantes quando assumem o poder gostam de ostentar, essa atitude desperta a inveja e a cobiça nos outros que fazem de tudo para assumir seu lugar”. O traficante Bem-Te-Vi, morto mês passado na Rocinha durante a operação Cavalo de Tróia realizada pela Policia Civil, é um exemplo.

A descriminação e o preconceito são as únicas desvantagens que Tatiana aponta para o morador da favela. “Quando eu digo que moro na Rocinha as pessoas me olham de outro jeito”, lamenta.