sexta-feira, dezembro 23, 2005

Super-Hérois


Sempre ouço falar que o futuro do Brasil está nas mãos das crianças. Bem, desde que ouço isso muitas crianças já cresceram e nada de bom fizeram pelo país, aliás, se elas crescem em certas situações de pobreza, como a maioria, eles farão um futuro e tanto no mundo do crime. Por favor, chega desse chichê! Quem tem que fazer alguma coisa somos nós.
Mas é Natal e todo mundo está feliz gastando o que pode e o que não. Nessa época de paz é até feio falar em mensalão e valerioduto.

Pax vobiscum

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O drama da violência carioca


Texto e foto por Aline Massuca

O crescimento desordenado das favelas, a falta de acesso à educação, o desemprego e a pobreza são fatores que contribuem para a violência no Rio de Janeiro.
Segundo dados da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano 2000, o Rio de Janeiro tem cerca de 199 mil analfabetos e 19 % da população vive em favelas. Esses dados são alarmantes e mostram que dos anos 80 até o ano 2000 essa população teve um aumento de 71,3%.
Segundo o Jornalista Xico Vargas, colunista da revista NoMínimo, o Rio de janeiro ganhou uma favela por mês nos últimos dez anos e na Rocinha 300 famílias surgem a cada dois anos. A favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, exemplo pela ausência do tráfico de drogas, está em plena expansão e ganha cinco novos barracos a cada semana. O aumento das favelas no Rio vem acompanhado da pobreza e, consequentemente, da violência.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Tráfico tenta seduzir fuzileiro

Favela oferece quinhentos Reais pela manutenção de fuzil
por Aline Massuca

Enviado na primeira Missão de Paz no Haiti, liderada pelo general Augusto Heleno, comandante da Força de Estabilização do Haiti, em Julho do ano passado, Bruno Ribeiro, fuzileiro naval de 26 anos, viveu por seis meses o drama de estar em combate longe de casa. Os perigos no Haiti, segundo ele, são reais e evidentes, porém enquanto estava na base militar, próxima a favela Cité Soleil, mais perigosa do país, o militar estava em segurança, longe dos “inimigos”. O contrário acontece no quartel da Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Bruno é espionado e constantemente persuadido pelo tráfico. As propostas para quem ganha um salário de fuzileiro são tentadoras, confessa. O pagamento alto em dinheiro faz muitos trabalharem para os dois lados. Bruno cuida das armas do quartel e essa função é a mais cobiçada pelo tráfico que tem necessidade desse serviço. Segundo o militar, as armas são muito complexas e a cada uso requerem um cuidado especial. “Os fuzis depois de usados acumulam pólvora derretida dentro do cano devido ao calor dos disparos e isso prejudica seu funcionamento. Eles precisam ser limpos a cada uso”, conta. Cada tipo de arma exige um cuidado e os militares estudam muito para manter o armamento em perfeito estado. O tráfico aprecia esse conhecimento e paga caro para receber esses cuidados. Já foram identificados, dentro do quartel, soldados do tráfico que se alistaram somente para aprender a limpar armas, revela.

Bruno conta que estava saindo do quartel um dia desses e seu carro foi parado por um jovem de fuzil na mão perguntando quem era Ribeiro. “Fiquei espantado na hora achando que ia me matar” diz. Ele se identificou e em seguida o jovem tirou um celular da cintura e disse que o “chefe” queria falar com ele. Ao telefone o militar recebeu a proposta de limpar os fuzis dos traficantes daquela favela (Bancários) por R$ 500,00 diários. Sem reação ao telefone, Bruno foi tranqüilizado pelo traficante. Ele disse – “Cara, é tranqüilo, pensa bem e depois você me diz. É um galão (R$ 500,00) por dia. Pensa direitinho”.
“É lógico que não respondi, mas a questão estava clara dentro de mim. Nunca vou fazer isso”. Além de achar errado, Ribeiro não quer ter vínculos com traficantes. Para ele, se alguém começa a trabalhar para o tráfico não consegue mais sair. “E se amanhã eu não quiser fazer mais, como fica?”, responde.
Depois desse dia o jovem teve conhecimento que seus passos e o de outros ali dentro estavam sendo vigiados por militares que serviam com ele.
Segundo Bruno, na porta do quartel os bandidos desfilam de fuzis a qualquer hora do dia e os militares, por lei, não podem fazer nada, a não ser que eles entrem em área militar.
Um dos motivos que levam os soldados a trabalharem para o tráfico, é o fato de muitos vindos da baixada e outras regiões mais distantes, morarem nas favelas da região. A proximidade acaba infiltrando os soldados dentro do tráfico de drogas. Um dia eles limpam as armas e um tempo depois já estão trocando tiros com a polícia, disse.

Bruno revela que intenção do Brasil na missão de paz do Haiti era conseguir uma cadeira permanente na ONU. Segundo ele, a violência no Haiti é motivada tanto pela causa política quanto pela fome. Naquele país existe uma grande desigualdade social. “ Lá ou você é muito rico ou miserável. A fome é tanta que as mulheres se prostituem por uma garrafa d’água”, conta. Diferente da situação do Rio de Janeiro, o haitiano tem motivo político para ser violento.

“Em nenhum momento fui informado que
a Missão de Pazno Haiti serviria como treinamento
para futuras operações em favelas cariocas”

O fuzileiro lembra que nas primeiras semanas da missão os soldados fizeram o seu papel humanitário, mas passadas algumas semanas a ONU não distribuía mais comida para a população e a tropa doava parte da sua comida, apelidada de ração, vinda do Brasil. O clima entre os soldados brasileiros e os haitianos ficou hostil. “Quando chegamos trazendo a esperança de melhoria e paz éramos tratados sempre com sorrisos. Eles falavam muito de Ronaldo e Ronaldinho e esse foi nosso elo amistoso”. Bruno argumenta que quando os haitianos perceberam que os soldados brasileiros não iriam matar a fome deles e seriam mais uma força armada no Haiti, o clima ficou tenso. “Era matar ou morrer,começamos a ser alvejados nos guetos da favela onde estávamos operando”, defende.

Ele operou na favela mais violenta do Haiti, Cite Soleil e , segundo ele, os corpos dos haitianos mortos em combates entre si, ou em batalhas com os soldados, ficavam até cinco dias expostos nos cantos das ruas.
O fuzileiro voltou com uma sensação de dever cumprido com a marinha pelo fato de ter participado de uma missão em outro país. As críticas negativas a ONU são contundentes e ele tem tanta esperança para o fim da miséria do povo haitiano quanto para o fim da violência carioca, ou seja, nenhuma.
*O nome do entrevistado é fictício por questão de segurança.