quarta-feira, março 22, 2006

Valmir Salaro e os erros do caso Escola Base

foto: arquivo pessoal do entrevistado

Por Walteman Junior

Um dos jornalistas investigativos mais conhecidos do Brasil afirma que a polícia nunca investigou direito o caso Escola Base. Tudo começou em março de 1994 quando duas mães acusaram os donos da Escola Base, que fica em São Paulo, e um casal, pais de um aluno da escola, de terem abusado sexualmente de seus filhos. A partir daí houve uma série de afirmações contra os supostos pedófilos. Depois de alguns meses, por falta de provas, os acusados foram inocentados. O Estado de São Paulo e o delegado, Edélcio Lemos, que conduziu as investigações, foram condenados pela justiça como os únicos culpados pelas difamações. Esse caso ficou marcado como um grande erro cometido pela imprensa.
Após uma década do ocorrido, o repórter Valmir Salaro ainda acredita que as crianças sofreram abuso sexual por causa do laudo do IML. O jornalista diz que "o laudo do IML atestava que uma das crianças tinha ferimentos no ânus compatível com a uma violência sexual". Mas não sabe quem foi e, em sua opinião, faltou prova material. "As provas materiais eram pouquíssimas", conclui Salaro.
Valmir compara esse com o caso Watergate denunciado pelos jornalistas do jornal Washington Post, que terminou com a queda do presidente americano. Ele condena as investigações do caso Escola Base, que também levaram a justiça a contestar a cobertura da imprensa nesse caso que resultou num verdadeiro massacre de seis pessoas inocentes. Ele diz que "os dois casos servem de exemplo do bom e do mau jornalismo". O repórter, no entanto, ressalta que apesar disso os jornalistas que cobriram a denúncia na época ainda acham que as crianças foram vitimas de abuso sexual.
Valmir Salaro lembra como começou na profissão ao largar a rádio Jovem Pam para ficar do outro lado do balcão. Na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo Valmir disse que tinha que atender bem os jornalistas, deixando-os bem informados e ao mesmo tempo não deixar o Secretário de Segurança, que representava o governo, numa situação difícil. Um caso clássico foi o assassinato do então governador do Acre. Uma historia considerada suspeita pela imprensa que apostava num crime político, enquanto a policia concluía por um latrocínio. Ele também estava na cobertura do massacre do Carandiru. "Foi muito complicado lidar com o assunto. Um caso de repercussão internacional. Jornalistas do mundo todo vieram para São Paulo... fui eu quem autorizou os repórteres a entrar no IML para fotografar e filmar os corpos dos cento e onze mortos na rebelião. A foto correu o mundo", lembra-se, orgulhoso, Salaro.
Mas o jornalista lamenta o Caso Escola Base por achar que vai marcá-lo pelo resto da vida. "Mesmo que eu faça a melhor reportagem do mundo, sempre serei lembrado pela minha atuação no caso da escola. Fiquei marcado”, finaliza o repórter.

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